entre um dia e outro

2009 E 2010: ARQUIVO DE RESIDÊNCIAS . 2011 e 2012: PROJETO ESCUTA NÔMADE

Arquivo para Porto Alegre

Isso é arte, né?

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Seu Luis chegou cedo. É de uma das comunidades de catadores de lixo que iríamos visitar naquele 31 de outubro. Antes das outras pessoas chegassem, ele me perguntava com sincera curiosidade: O que tem a Bienal a ver com a minha comunidade? Eu expliquei uma primeira vez mal, talvez sem ter entendido sua pergunta ou subestimado a profundidade que lhe interessava. Ele refez a pergunta: Eu entendo que este percurso tenha até a ver com cultura, mas com arte? Como este percurso pode ser arte? Eu tomei fôlego e falei de coisas como a crise da representação, do uso de objetos como índices, de artistas que usavam as relações como matéria prima, de outros que moldavam situações. Não soube se respondi bem, se ele havia ficado contente.

Mais tarde passamos no Parque Harmonia e de lá fomos à Favela onde mora e trabalha. Explicou-nos que serão deslocados para outro bairro, mas que montaram uma estratégia para esta mudança, de forma a não levarem os problemas da favela para o lugar para onde vão. Iriam primeiro desenvolver várias projetos na favela, para quando estiverem mais organizados se mudar para as casas novas.

Depois de andarmos bastante e sermos muito bem recebido pelos moradores, ele deu uma palavra de despedida em que refletia sobre nossa visita e afirmava:

“Com arte você vai um pouco além ou muito além daquilo que você está vendo, daquilo que está ali. Vendo sobre este sentido a nossa comunidade é arte. Vejam bem, aqui vocês não vão achar violência nunca. (…) A gente poderia fazer uma universidade de como se viver bem com pouquíssimo dinheiro, aqui ninguém é mau com a vida, sem quase nada, só tem calor humano. Neste sentido eu acho isso arte, como as pessoas conseguem viver com tão pouco, do que a sociedade acha que é tão importante, e transformar aquilo em coisas boas. Eu vivo aqui há dois anos e meio. Eu não tenho o que antes tinha, mas o que hoje eu tenho antes não tinha. Isso é arte, né?”

04/novembro – Nas barcas da memória (rascunho)

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Um acaso nos levou à Neca, mediadora e articuladora

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Bandeirola com nome da comunidade nos deu boas vindas

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Comunidade preparou para nós uma exposição sobre a história do bairro

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Pequeno porto para barcas era ponto de ligação fluvial

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Enchente de 41 fez moradores se mudarem para áreas cedidas vizinhas ao pequeno porto

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A vida das famílias se misturou à vida do Guaíba, desde então

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Pelo menos 3 gerações tiveram ali o rio como quintal

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Segunda surpresa: criaram um espaço de projeção e um vídeo com relatos sobre a história do bairro

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Matriarca guarda a memória dos primeiros tempos

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Fotografias familiares fundamentais para entender a história do bairro

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O vídeo servia como espelho para a comunidade, oportunidade também de organizar a memória

03/novembro – Segunda intervenção na Bienal

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Em uma das intervenções, parte da ação consistia em aplicar uma nova legenda

O vídeo-arte Cantante, de Ana Gallardo, recebeu neste terça-feira a intervenção minha (Júlio) e de vários artistas convocados: Liane Strapazzon (que me sugeriu os convidados), Ana Paula Monjeló, Antônio Augusto Bueno, Fabiano Gummo, Fernanda Manéa, Gaby Benedyct, Marcelo Armani, Sol Casal e Rodrigo Uriartt. Mais de 60 pessoas assistiram as performances e uma jovem do público foi além, realizando uma linda performance interagindo com um desenho colocado no chão. A interação entre os artistas foi muito bacana. Uma câmera de vídeos operada pela Júlia Coelho captava imagens, detalhes das ações, eu sujava, texturizava, criava novos focos usando materiais de sucata sobre a lente do projetor e um segunda tela enviesada dialogava com a cantante do vídeo de ana Gallardo.

Estou ainda procurando as fotos do arquivo da Bienal (operando também, não tive tempo de fotografar) e com dificuldades para fazer um upload de um registro muito bacana desta ação coletiva.

Hoje tenho que escrever para o catálogo da Bienal e tenho pouco tempo para este post, mas tenho a intuição que esta pequena intervenção significa uma prática nova de se relacionar com as obras de mostras tão importantes quanto uma bienal, onde o espectador não é mais aquele do século XIX ou mesmo recorrente no século XX, contemplativo. Ele se transforma em espectador-criador, interagindo, imergindo, criando ruídos, criando ruídos por vezes, dialogando com a obra instituída. Espero refletir com cuidado sobre isso.

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Interação entre vídeo e presença foi constante

POSTAREI O VÍDEO ASSIM QUE OS CAMINHOS VIRTUAIS SE ABRIREM…

01/Novembro – E a bienal tornou-se “esqueitável”

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Final de Percurso urbano sobre Cultura de Rua: skatistas praticam em uma obra criada para ser grafitada.


Lições de Certeau
Algumas palavrinhas sobre este percurso antes de apresentar algumas fotografias. Pudemos ver e conversar bastante com Lucas Ribeiro, o Pexão, sobre como funciona a prática do skate. Ele preparou um roteiro muito interessante para a gente. A lembrança de Certeau, do conceito de cidade praticada vinha à tona por conta de muitas das atitudes do grupo de skatistas que acompanhou o percurso. Aprendemos que hoje o skate agrega mais que qualquer outro esporte, com exceção do futebol, que muitos de seus praticantes se acham mais performáticos, mais artistas que esportistas. Vimos que é um tema que tangencia a expressão gráfica, a moda, estilos de vida e consequentemente, veículos de comunicação.
Mais bacana foi perceber como trata-se de uma sub-cultura não competitiva, que desdenha campeonatos, que aplaude sempre as manobras bem-sucedidas, onde cada pessoa segue o próprio ritmo e é sempre respeitada pelos colegas, frequentemente de classes sociais distintas.

Reinvenção da cidade
A impressão que passaram foi de que – além de reinventarem a cidade, dando novos e mais divertidos usos – poderiam ser melhor considerados pelso formuladores de políticas públicas na medida que são provocadores de territórios móveis de tranqüilidade, de solidariedade em espaços urbanos cada vez mais esvaziados.
E de quebra, foi muito prazeiroso compartilhar com eles a utilização dos Percursos urbanos como credencial (Em nome da arte…) para tornarem “esqueteável” dois espaços que já estavam cobiçando. O Lucas propôs e conseguiu-se acesso ao trilho-banco do Museu do Trabalho e a uma obra da Bienal – Fico devendo o nome. Isso tem a ver com arte e, é claro, com mediação da arte. Espero poder aprofundar o tema no texto para o catálogo.

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Lucas Ribeiro discorreu bastante sobre as relações entre a prática de skate e expressão estética

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Praça da Matriz sobre ponto de vista dos skatistas: arquiteturas e interações sociais

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Muita água para hidratar e mais conversas dentro do ônibus

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Corrimão Amarelo: prédio da Câmera de Vereadores ganha uma nova camada de sentidos

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Banco feito de trilhos no Museu do Trabalho foi agenciado para o percurso.

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A galera esperando a vez

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Relação do skate com vídeo e fotografia é muito forte e de mão dupla

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Intervenção na Bienal atraiu a atenção do público

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19 horas, terminou o percurso e a galera continuou rolando

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31/outubro – Cidade desejante: percurso sobre ocupações urbanas

Nesta tarde de sábado saímos com o ônibus lotado para investigar três situações de moradia, para pensar práticas de transformação da vida urbana . A primeira situação visitada foi a de catadores de papel que moram em espaços públicos. Depois fomos a uma favela cujos moradores estão vivendo um processo de recolocação especial. A peculiaridade é que eles querem se preparar para a nova moradia se organizando, desenvolvendo ações ali mesmo, onde já vivem: acreditam que doutra forma não saberão fazer a transição. E o terceiro espaço visitado foi a comunidade Utopia e Luta, já comentada neste blog em post anterior. Por falta de tempo, o relato deste percurso vai ser realizado, neste primeiro momento, apenas com fotografias.

Relembrando a proposta divulgada:
A Cidade Desejante.
Recorrente a imagem nas cidades latino-americanas de pessoas relegadas a condições subumanas de moradia e trabalho, já descrentes do valor da voz e das mãos. Sem renda, são geralmente ignoradas por projetos habitacionais. Nesta tarde, em rota inversa, iremos conhecer comunidades residenciais resultantes de experiências de persistente mobilização popular. Uma oportunidade de observar o caminho entre o desejo, o desenho da imaginação e a prática cotidiana de autogestão e cooperação.

Mediador: Fernando Campos Costa. Ativista social, permacultor, técnico militante no campo da bioarquitetura e ações cooperativas. Membro do Casa Tierra, Núcleo de Amigos da Terra.

E vamos para as fotos:

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Apresentação de costume no cais

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Reconhecendo conexões da cidade com a obra de Nicholas Floch

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Conversando com moradores de rua

Seu Luís, liderança comunitária fala o ponto seguinte do percurso

Vários pequenos jardins, muitos barracos bem organizados

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Maior parte dos moradores vivem como catadores de lixo

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Seu Luís fala do projeto que dará lugar à rampa de lixo

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Debate sobre conceitos Ocupação e Invasão: quando o estado privatiza espaços públicos, o que é isso?

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Visita ao Utopia e Luta começou pelo espaço cultural

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Conhecendo a história da comunidade

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Depois de tudo, no terraço, mais conversa para fechar o percurso

COMO SE FOSSE UM HAPPENING. Intervenção na 7ª Bienal do Mercosul

VAI SER MUITO INTERESSANTE ESTE ENCONTRO

A 7ª Bienal vista de forma inacabada, em contínua recriação. Este é o mote da intervenção em que vários artistas se reúnem para refazer provisoriamente uma vídeo-arte da mostra Ficções do Invisível, expondo processos criativos, alterando sentidos, reafirmando o conceito de obra aberta.
Com o artista Júlio Lira e artistas convidados: Antônio Augusto Bueno, Fabiano Gummo, Fernanda Manéa, Gaby Benedyct, Marcelo Armani, Sol Casal e Rodrigo Uriartt.
Dia 03 de novembro, 19h na Mostra Ficções do Invisível (Armazém A4, no Cais do Porto)

Camiseta para identificação no Cais 3

Para facilitar a identificação da produção no Cais 3, ponto de encontro dos participantes dos Percursos Urbanos a Liane Strapazon e a Júlia Coelho, conspiradoras das ações, estão usando esta nova camiseta.
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29/outubro – Dionísio vai à guerra, percurso sobre teatro de resistência em Porto Alegre

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Foto da peça Os fuzis da Senhora Carrar, encenada no Teatro de Arena

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Rafael Guimaraens, mediador do percurso, se apresenta

Hoje fizemos um itinerário pela vida de grupos que criaram espaços para produzirem suas peças, incentivarem o debate político, que incentivam mostras de artes que não eram vistas nos circuitos convencionais. O mediador, Rafael guimarães, entre muitos livros, escreveu um sobre o Teatro de Equipe e outro sobre o Teatro de Arena.

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Primeiro livro de Rafael sobre o tema: Trem de volta - Teatro de Equipe

O primeiro grupo a ser citado foi o Teatro de Equipe (1958-1962), que transformou em um comitê de artistas em favor da legalidade lesada nos movimentos que antecederam o golpe de 64. “Não somos diletantes. Estamos em teatro porque temos necessidade de nos expressar. Buscamos dar nossa contribuição ao homem através do teatro, não para distraí-lo, mas para humanizá-lo”, diz Paulo José, um dos integrantes do grupo, em texto que mais tarde iria para registro página da internet.

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Teatro de Arena, Palco de Resistência: Prêmio Açorianos de Livro do Ano


Na visita ao Teatro Oficina ouvimos relatos do esforço braçal dos atores para escavar, para levantar o prédio, depois dos trabalhos e de aulas de um curso de teatro. Com tijolos desapropriados daqui e dali, com persistência clandestina, o espaço foi construído. Virou um lugar de peças, de debates, de militantes, de operários. Em seguida, foi espaço de luta pela anistia. Tudo isso com muitas invasões, ameaças, represálias, torturas. De fato, impressiona a coragem daqueles atores. Um pouco da história deste grupo pode ser vista neste link.

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Difícil sentar sem se deixar contaminar pela atmosfera histórica

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Cena de À flor da Pele, com Jairo de Andrade e Marlise Saueressig

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Camilo e Miguel Ramos em cena de Mockinpott

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Registro da encenação de Corpo a Corpo, de Oduvaldo Viana Filho

Agora o teatro funciona também como centro de pesquisas e documentação
Agora o teatro funciona também como centro de pesquisas e documentação

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Textos com cortes da Polícia Federal fazem parte do acervo

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O Teatro Marcelina também foi alvo da repressão do Comando de Caça aos Comunistas

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Terceira parada: o Clube de Cultura

Link aqui

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Aprendendo sobre a história do clube de Cultura

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Olhando fotos antigas dos judeus “vermelhos” que fundaram o clube

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Programas com peças em iidiche: luta política pela língua foi uma das primeiras bandeiras do clube

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No final Rafael Guimaraens pôs em debate os novos rumos do Clube de Cultura

Percursos Urbanos na Bienal continuam nesta semana

Quatro saídas estão previstas. Entre os mediadores, estão o jornalista Rafael Guimarães e o curador independente Pexão

Nos dias 28, 29 e 31 de outubro e no dia 01 de novembro, o artista Julio Lira do coletivo MESA dá continuidade ao projeto Percursos Urbanos – Escuta na Cidade / Ruído na Bienal. Com o objetivo de compartilhar conhecimentos e (re)descobrir espaços e pessoas, cada percurso abordará um tema e será mediado por pessoas de saberes acadêmicos e populares diferentes. O jornalista Rafael Guimaraens e Pexão (Lucas Ribeiro) – curador independente, skatista e galerista são alguns dos convidados. Os percursos têm duração de três horas e meia e trajetos diferentes a cada dia. As saídas são sempre no Armazém A3, do Cais do Porto. As vagas são limitadas e as inscrições gratuitas podem ser feitas, com até um dia de antecedência, pelo telefone 3254 75475 ou através do e-mail julia@bienalmercosul.art.br.

Mais informações sobre o artista podem ser conferidas em https://juliolira.wordpress.com. Programação semanalmente atualizada em http://www.bienalmercosul.art.br.

Programação 2a Semana – 28.out a 01.nov

DIONÍSIO FOI À GUERRA

Teatro de Resistência em Porto Alegre. Um tempo onde o palco era arena de combate. Os temores nas noites frias e perigosas encontravam a coragem calorosa na simbiose entre artista e público, todos sabendo exatamente do que se tratava estar ali. Um trajeto por espaços incrustados na paisagem não só como prédios, mas como histórias e vivências em que a arte era do espírito e da consciência.

Mediação: Rafael Guimaraens. Jornalista, vivenciou o período da luta contra a ditadura militar e tem livros publicados sobre a memória cultural da cidade, entre eles, Teatro de Arena – Palco de Resistência.

Dia 28 de Outubro, quarta-feira.

INTERFERÊNCIA NA BIENAL

Escuta na cidade, ruído na bienal – Neste percurso os participantes serão convidados a interferir em uma obra da bienal, alterando sentidos, recriando-a provisoriamente. O roteiro se inicia assistindo e debatendo o vídeo da artista escolhida, Ana Gallardo. Em seguida, as pessoas serão conduzidas por uma deriva na cidade em busca de objetos que mais tarde serão projetados em confronto com a obra da artista.

Mediador: Júlio Lira. Artista e sociólogo participa do programa Artistas em Disponibilidade desenvolvido pela VII Bienal do Mercosul
Dia 29 de outubro, quinta-feira.

MOBILIZAÇÕES URBANAS

A Cidade Desejante. Recorrente a imagem nas cidades latino-americanas de pessoas relegadas a condições subumanas de moradia e trabalho, já descrentes do valor da voz e das mãos. Sem renda, são geralmente ignoradas por projetos habitacionais. Nesta tarde, em rota inversa, iremos conhecer comunidades residenciais resultantes de experiências de persistente mobilização popular. Uma oportunidade de observar o caminho entre o desejo, o desenho da imaginação e a prática cotidiana de autogestão e cooperação.

Mediador: Fernando Campos Costa. Ativista social, permacultor, técnico militante no campo da bioarquitetura e ações cooperativas. Membro do Casa Tierra, Núcleo de Amigos da Terra.

Dia 31 de outubro, sábado.

CULTURA DE RUA

Cidade Reconfigurada. O skate de rua busca explorar a cidade, vivenciar sua dimensão lúdica e a expressão corporal de seus praticantes. É uma prática urbana que se apóia em interfaces gráficas como revistas, camisetas, estampas de pranchas, demarcações de território assim como em universos sonoros afins. Talvez por isso muitos dos seus adeptos fogem da categoria de atletas e se vêem como artistas performáticos, especialistas em reconfigurar a arquitetura e mobiliário urbanos através de uma percepção singular do espaço. Neste percurso iremos investigar a performance do skate, com suas táticas e críticas à suposta ordem estabelecida pelas instituições.

Mediador: Lucas Ribeiro. Skatista, fanzineiro, jornalista, curador independente e galerista. Sócio-fundador da extinta galeria Adesivo e autor do projeto e curadoria geral da mostra TRANSFER, no Santander Cultural. Escreve para as revistas Vista Skateboard Art e Void, é sócio da produtora noz.art e proprietário da galeria FITA TAPE.

Dia 01 de novembro, domingo.

O projeto Percursos Urbanos se caracteriza por criar roteiros investigativos dentro de uma metodologia própria. Em Porto Alegre, Percursos Urbanos – Escuta na Cidade / Ruído na Bienal irá apresentar e discutir os desafios e as possibilidades da urbe, através de conversas com pessoas de saberes acadêmicos e populares, que atuarão como mediadores durante os trajetos realizados em ônibus urbanos. Em outubro, Percursos Urbanos acontece entre os dias 21, 22, 24, 25, 28, 29 e 31 de outubro. Em novembro, nos dias 01, 04, 05, 07, 11, 14 e 15. A saída será sempre do Armazém A3 do Cais do Porto as 15h. As inscrições gratuitas podem ser feitas, com até um dia de antecedência, pelo telefone 3254 7545 ou através do e-mail julia@bienalmercosul.art.br.

O projeto é desenvolvido também em Fortaleza/Ceará, há mais de cinco anos, pelo coletivo Mediação de Saberes em parceria com o Centro Cultural Banco do Nordeste de Fortaleza.

Serviço
Programa de Residências Artistas em Disponibilidade, com artista Julio Lira
Percursos Urbanos – Escuta na Cidade / Ruído na Bienal
Dias 28, 29, 31 de outubro e 1 de novembro
Saída do Armazém A3, do Cais do Porto: das 15h às 18h30min
Entrada franca, mediante inscrições antecipadas pelo telefone 3254 7545 ou pelo e-mail julia@bienalmercosul.art.br
É necessário chegar com 15min de antecedência

25/outubro – Paisagens não-visuais

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Apresentação da proposta para os participantes

Thaís e Juliano, os mediadores. Ao seu lado, Ju, a namorada.

Antes de sair
Bastante gente inscrita para o percurso, alguns dos quais já haviam vindo para anteriores: aos poucos vamos criando um núcleo de pessoas mais próximas, que se repetem. Alguns lamentam, porque só podem vir no final de semana. Agradável ver a proposta dando tão certo quanto em Fortaleza.

Neste domingo, uma das primeiras coisas que compartilhamos com o grupo era que não se tratava de promover uma concepção romântica pela qual as pessoas que não vêem ou vêem pouco são compensadas pela potencialização dos outros sentidos. As dificuldades do cotidiano de um cego nos impedem de tal pensamento. Mas, tampouco nos interessava neste percurso induzir uma percepção sentimental, onde as pessoas cegas são associadas a suas limitações, bloqueando a atenção para suas singularidades. Particularmente nos interessava em pensar nas deficiências das pessoas comuns, profundamente ligadas ao mundo pela visão e incapazes de chegar a ele através de outros sentidos.

Ônibus perfeito, silencioso: motor atrás, montado do lado de fora do veículo.

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Depois das apresentações, Juliano respondia perguntas a todo momento

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Na Esquina da Borges, a primeira vivência

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Proposição: Escutar uma esquina, discernir sons

Muitos minutos silenciosos, de só escuta

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Proposição: No alto do viaduto ouvir a duplicidade dos planos (avenida abaixo e rua acima)

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No alto do viaduto, sol e brisa

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Proposição: Prestar atenção ao piso

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De volta ao ônibus

Proposição: Movimentar-se pelo parque Redenção

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Ponto de reencontro em uma das fontes: o som parecia de uma cachoeira

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No finalzim de tarde, Thaís Aragão fala sobre suas aprendizagens no campo das paisagens sonoras

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Depois do percurso Juliano e sua namorada, Ju foram visitar a Bienal

No decorrer desta tarde ouvimos muitos relatos, descobertas do funcionamento do próprio corpo, esforçamo-nos – inclusive as crianças que se dedicaram com muita sinceridade – para entender como poderia ser a percepção e por fim para compreender o que são as paisagens não visuais. Muitas perguntas e respostas foram gravadas e espero colocar à disposição dos interessados logo.

Uma das coisas que guardei da Thaís foi seu texto sobre a sobre a territórialidade construída a partir da sonoridade que não é móvel. São territorialidades que se formam e que depois se evaporam criando uma paisagem menos fixa que a paisagem sonora. Os sons são também utilizados como táticas, estratégicas com sentido sem precisar ter raízes ou erguer estruturas.

Final de tarde, sensação boa.

O TEXTO DE DIVULGAÇÃO DO PERCURSO ACIMA RELATADO FOI O SEGUINTE:
Paisagens não-visuais (Vivências) – Para nos ajudar a perceber e repensar a paisagem urbana convidamos cegos para nos conduzirem, levando-nos a retomar a cidade através da escuta, do tato e da atenção sinestésica. Além do espaço urbano, obras da bienal serão apreciadas. Em vários momentos os participantes serão convidados a usar vendas. Tão importante quanto a vivência será o bate-papo com estudiosos sobre questões como a configuração da paisagem não como algo determinado pela natureza mas pela articulação de experiências e práticas discursivas.
Mediadores: Thaís Aragão, produtora cultural, jornalista e pesquisadora do som enquanto constituidor de territorialidades e Juliano Machado, Funcionário público federal, formado em jornalismo pela Universidade de Caxias do Sul, graduando de Ciências Sociais pela UFRGS. Deficiente visual desde os dez anos de idade.
Ponto de saída: Armazém A3 do Cais do Porto